José Reginaldo Matias de Souza, é uma personalidade histórica
do futebol amador de Jundiaí. Mas antes de entrar no futebol amador, passou
pelas categorias de base do 12º GAC - “Entramos em um time juvenil, bem
treinado”, conta. Mais conhecido como Matias, é presidente do Aliança do Jardim
Copacabana, que em 2006 foi campeão da Série Prata da Série A de Jundiaí. Seu
clube disputou várias vezes a elite da cidade jundiaiense. Seu Matias também
foi vice-presidente da Liga Jundiaiense em duas administrações. Foi colunista
sobre futebol amador no Jornal Bom Dia Jundiaí. E ele vai contar um pouco da
sua história e também opinar sobre o atual momento do futebol jundiaiense nesta
super entrevista ao Esporte Jundiaí.
Esporte Jundiaí:
Como é ser presidente de um clube de futebol amador?
José Reginaldo Matias de Souza: Dirigir um time de futebol
amador requer muita dedicação, consome muito tempo e dinheiro.
EJ: Como
está hoje o Aliança do Jardim Copacabana?
Matias: O Aliança está inativo em campeonatos, mas tem a
documentação regularizada até 2018.
EJ: Como é
a semana de um presidente de clube de futebol amador?
Matias: A semana de um presidente de clube com bom orçamento
é mais tranquila, os demais, a maioria, é lutar para lavar uniformes, comprar
lanche, pagar a bendita gasolina (risos) que todo jogador quer, e isso de
domingo a domingo, não tem folga, a cabeça a mil sempre.
EJ: O que
mais irrita um presidente de clube de futebol amador?
Matias: O que mais irrita é ver que resultados não são
desportivamente justos, que teve maracu taia
de bastidores. Perder limpo, ok, faz parte, afora isso, é dureza.
EJ: Como o
presidente de uma equipe tem que tratar com os jogadores?
Matias: Em tese, o presidente é quem paga, então, conta com
mais ascendência até do que os "técnicos". Mas como qualquer gestão
de grupo, requer experiência, muito tato, psicologia e uma boa dose de
inteligência. "Ah, quem não tem isso tudo não consegue nada?", não é
o que eu disse. Mas se tiver tato com a rapaziada, a coisa fica mais na mão.
EJ: Existe
ética no futebol amador?
Matias: Ética? Claro que não! Tem algum dirigente, colega seu
de sacrifício, numa rodinha aqui se lamentando que não tem dinheiro, não tem
jogador e coisa e tal, mas já está ajeitando um jogador seu, incentivando o
"leilão", que sempre acaba com pretensão de time sem orçamento.
Então, nesse sentido, não existe ética, não. E nos pleitos diante dos
organizadores, sempre tentar levar vantagem em cima dos coirmãos é a regra:
cadê a ética? Tem não...
EJ: Como
foi ser colunista de futebol amador no jornal Bom Dia?
Matias: Foi uma ótima experiência, pude aliar o conhecimento
dos bastidores com o passar para o leitor as razões de cada resultado, quase
que um expert (risos), quando, na verdade, conhecendo os mecanismos dos
bastidores permitia prever muita coisa. Isso dava credibilidade.
EJ: É fácil
ser comentarista de futebol em televisão?
Matias: Depende, a TV tem muito breque e pouca liberdade. Tem
coisa que você não pode falar, tem coisa que tem que dourar a pílula. Nesse
sentido é ruim, mas a televisão é o veículo que torna celebridade rapidinho.
Está em desuso, mas prefiro escrever. Nem tenho tipo para TV.
EJ: Como
foi ser vice-presidente da Liga Jundiaiense?
Matias: Eu era observador do Amador, um curioso, e acho que
seu Toninho (Antônio de Oliveira, presidente por quase 30 anos da Liga
Jundiaiense de Futebol) achou que eu poderia contribuir de alguma forma. E ele
me ouvia, viu? Fiquei dois mandatos consecutivos. E meu time nunca foi
favorecido! (risos) Foi até rebaixado numa dessas. Mas subi da Série B duas
vezes. Mas sem dinheiro, subia e caía. Eu não aceitaria favorecimento,
falcatrua em proveito próprio.
EJ:
Pretende ser presidente da Liga Jundiaiense algum dia, como muitos desejam?
Matias: É complicado confessar algum desejo de ser
presidente... Fui vice de novo agora em 2016, mas acho que não era bem uma
eleição de presidência e diretoria, fizemos um bom campeonato, justo e limpo.
Não sei, sinceramente não sei se é meu desejo. Agora, colaborar, isso estou
sempre à disposição, se for para ter voz ativa, para fazer número, aí, não!
EJ: Futebol
amador de Jundiaí nos últimos 15 anos mudou bastante? Para melhor ou para pior?
Matias: Mudou para chuchu! Quando todos achavam que o
autoritarismo, pecha da administração do seu Toninho, é que atrasava a
modernização, veio exatamente, aos poucos, a transformação de um excelente
produto comercial num nada, numa insignificância comercial em que, a exemplo de
muitos anos atrás em que se rifava frango assado para manter times como o
Jardim do Lago ou se rifava nas arquibancadas do Dal Santo camisetas do
Cruzeiro da Maringá como forma de arrecadação e permitir sobrevivência dos
times, ficamos ainda mais atrasados nesse quesito: os times pagam para jogar o
que faz uma sangria desatada no orçamento para melhorar os elencos. Retomar o
caminho da modernização comercial, o produto futebol amador de Jundiaí terá um
caminho longo pela frente, a começar por readquirir credibilidade. É o que eu
penso, e respeito toda opinião diferente desta minha, mas eu penso assim.
EJ: Gosta
de ex-profissionais atuando no futebol amador?
Matias: Sempre fui radical: não existe ex-profissional. Se
tem contrato remunerado no futebol, é profissional, e esses, na minha opinião,
não deveriam atuar porque levam vantagem sobre outro jogador de outro time que,
sem treinar, trabalhando, por exemplo como entregador de pizza (motoqueiro) ou
numa fábrica, estaria abaixo nos quesitos técnico e físico. Campeonato não é
federalizado? Então? Deveria haver um bloqueio dessas inscrições. Não sei se
há. Ou, se for absolutamente varziano, libera para todo mundo, aí, azar de quem
não tiver bala na agulha, mas metade de um jeito, metade de outra, não acho
legal. Ainda acho que deve ser amador de verdade sem ser uma várzea, se é que
você me entende.
EJ:
Treinador no futebol amador tem que ser estilo mais paizão ou tem que entender
de tática?
Matias: Tática? Paizão? Nem um, nem outro. O nível mental de
um cidadão médio, boleiro, não é capaz de pôr em prática nenhum esquema
coletivo, jogador vem, escolhido pelo técnico ou pelo diretor, e joga conforme
joga sempre em todo lugar. Ou o técnico bota no time sabendo para onde ele
corre, como chuta e como falha, ou não tem esquema tático que o encaixa. Um ou
outro time com muito jogador rodado em times grandes, até na Europa, esses têm
algum esquema, mas é crédito mais deles próprios em campo do que do "professor".
E esse técnico também não passa de um curioso que aprende vendo as pantomimas
de um Felipão da vida, que balança a mão, que fala que está certo e que tá
errado o que ninguém sabe o que é que tá acontecendo. Tem um ou outro que se
prepara, que faz curso, mas na hora H, cai no nível de qualquer Zezinho de
qualquer quebrada da cidade, que escala, que substitui por pura intuição. Também
respeito toda opinião diferente desta minha. Sem ofender ninguém, pelo amor de
Deus!.
EJ:
Acredita que algum dia terá união o futebol amador de Jundiaí, ou teremos
muitos remos, e cada um querendo puxar para o seu lado?
Matias: Acho que não teremos união para o bem do Amador, mas
os times estão abrindo os olhos para a tomada de posição que precisam ter na
busca dos seus interesses maiores, sem times, sem futebol. Como é um ambiente
competitivo, vão continuar unidos no objetivo de um bom campeonato e desunidos
quanto aos interesses, se existe do próprio time.
Rapidinho
Qual time torce no futebol: Palmeiras
Torce por algum outro time/atleta ou outra modalidade: Gosto no
mesmo nível da Fórmula 1
Um ídolo no esporte: Nem sei se corrida de carro pode ser
esporte, mas um ídolo brasileiro e meu é o Senna. Joaquim Cruz (800 m), Guga
(tênis), Zanetti (ginástica). Zé Roberto Guimarães (técnico de vôlei) e Bernardinho,
opa? Mas ídolo brasileiro é fruto de esforço individual.
Um ídolo fora do esporte: Fora do esporte, só a música.
Mozart, música clássica, opa, gosto muito.
Comida favorita: Lasanha
Bebida número 1: Água. Número 2 é a cerveja (risos)
Qual outro esporte, fora o seu, gosta de acompanhar: Acompanho
vôlei e Fórmula 1 com maior interesse
O que detesta fazer, mas faz: Atividade física, não gosto,
mas traz resultados para a saúde. E com a idade, não tem jeito.
Um sonho: Sonho pouco, acho que viver muito e com saúde. E
morrer num sopro, pronto, foi, acabou.
Um pesadelo: Pesadelo? Só doença. No mais, o mundo é uma
moleza (risos)
Exemplo de beleza: Acho que a beleza é magra, está aí o
estilo.
Estilo musical que gosta: Música clássica e caipira
Estilo musical que detesta: Funk - Não aguento!
Uma música: Caboclo Centenário, Dino Franco e Mouraí, gosto muito.
Um show: Não gosto de multidão se acotovelando.
Estilo favorito de filme: Gosto de filme aventura. Rebelião
em Alto Mar eu assisto até danificar o DVD (risos), não canso.
Gosta de ler: Sim, mas não tenho como vício
Que tipo de notícia não gosta de ouvir, ler ou assistir: Não
gosto de noticiário sobre maus tratos a crianças, idosos e animais.
Família é: Tudo
Quando liga a tv, paro para ver: Comédias
leves, água com açúcar, tipo essas da Sessão da Tarde.
Mania: Não tenho manias, superstições, essas coisas.
Vida é: Uma só
EJ: Se
pudesse falar apenas uma frase, ao presidente do Brasil, o que diria?
Matias: Presidente, sê você é coerente, é o que foi prometido
e acabou! Ou vai ou racha.
EJ: Uma
história boa que ocorreu com você no futebol?
Matias: Achei muito legal, quando comecei, os treinamentos
que eu dava para o infantil do Aliança atrás do Dal Santo (havia ali um
gramadinho), com os livros que eu tinha lido e com os elementos que eu havia
comprado, a afluência de moradores do Jardim Merci e dos dirigentes do clube
para o qual comecei a trabalhar voluntariamente e a admiração deles. Fiquei
todo cheio! (risos) Esse trabalho voluntário, poderia ter sido qualquer outro,
era recomendação dos psicólogos da empresa em que eu trabalhava para um
departamento inteiro que andava à beira de um ataque de nervos. Acho que foi
esse episódio de todo sábado de manhã na Vila Rami que me introduziu dali para
até hoje. De dentro ou de fora, como observador externo que hoje eu sou.
EJ: Para
finalizar, qual a música para ouvir hoje?
Matias: Tem uma canção do Arnaldo Antunes, O Silêncio, que dá
para ouvir hoje, seja hoje quando for.