Em entrevista, John Textor defende teto salarial no futebol brasileiro

17/07/2024 - 14:50

O sempre polêmico e falastrão proprietário da SAF do Botafogo, John Textor, em entrevista nesta quarta-feira ao site Ge.Globo, declarou abertamente ser a favor do teto salarial no futebol brasileiro. Para o dirigente, existe o temor de uma equipe vencer por mais de duas décadas seguidas o Brasileirão, se limites não forem impostos pela CBF para gastos com salários pelos clubes. Porém ele cita como exemplos, competições de ligas esportivas americanas, onde mais de um terço dos participantes jamais foi campeão - um contrasenso. 

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“Se queremos paridade, deveríamos fazer um teto salarial. A NBA, a NFL fazem isso funcionar muito bem. É negociado com o sindicato de jogadores. Cuida não só dos grandes jogadores, mas estabelece um pagamento mínimo para jogadores que estão começando. Estabelece dinheiro para aposentadoria de jogadores (...) Poderia ser feito no Brasil, não na Europa. A razão pela qual não dá para fazer na Europa é que os países são pequenos, as fronteiras todas são próximas. Seria muito fácil para um jogador dizer ‘eu não gosto do meu teto salarial na Inglaterra, então vou para a França’ (...) esse é meu aviso para Corinthians, Palmeiras, Flamengo... Se não fizermos algo, vamos acordar daqui a 70 anos, sob a atual estrutura administrativa, com as pessoas que estão aqui hoje, o Bahia vai ganhar o Campeonato Brasileiro em 17 de cada 20 anos (...) Se não fizermos algo agora sobre um teto salarial, o Bahia vai comer nosso almoço. Aquela cidade maravilhosa [Salvador], ótimo hotel, ótima comida, perfeita. Eles vão ganhar todos os campeonatos por 20 anos consecutivos. Lamento dizer isso para os torcedores do Flamengo aí fora. Esqueçam, acabou, acabou. Precisamos consertar isso agora. A Liga tem que ser feita agora, o teto salarial também.”, declarou em quatro trechos diferentes da entrevista. 

Textor apenas esqueceu que o teto salarial não aproximou equipes ‘pequenas’ de vencer. Na NBA, das 30 franquias, 11 seguem sem ter conquistado o título na história da competição (Memphis Grizzlies, Phoenix Suns, Los Angeles Clippers, Minnesota Timberwolves, Charlotte Hornets, Oklahoma City Thunder, Utah Jazz, Brooklyn Nets, Indiana Pacers, Orlando Magic e New Orleans Pelicans).

Na NFL, das 32 franquias, 12 nunca venceram a competição (Atlanta Falcons, Arizona Cardinals, Buffalo Bills, Carolina Panthers, Cincinnati Bengals, Cleveland Browns, Detroit Lions, Houston Texans, Jacksonville Jaguars, Los Angeles Chargers, Minnesota Vikings e Tennessee Titans), sendo que quatro equips jamais estiveram no SuperBowl (Cleveland Browns, Detroit Lions, Houston Texans e Jacksonville Jaguars).

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Durante a conversa com os jornalistas Giba Perez, Martín Fernandez e Sergio Santana, Textor novamente reclamou do Brasileirão do ano passado. “Eu reclamo de muitas coisas que aconteceram sobre manipulação, mas o fato é que poderíamos ter apenas vencido um jogo no fim do ano. Poderíamos ter segurado uma vitória por 1 a 0 no fim por duas vezes e seríamos campeões. Foi horrível”, afirmou.

“A empresa que nos ajuda aqui [Good Game] monitora Roland Garros, um jogador da NBA foi banido [Jontay Porter]. Honestamente, não acho que eu tenha cometido muitos erros”, completou em outro trecho da entrevista.

Textor também criticou o STJD, que na visão dele não é um tribunal de justiça. “O STJD não é um tribunal de verdade. Eu acho que tudo isso deveria estar nas mãos de um promotor de verdade. Eu ocultei os nomes dos jogadores e entreguei de maneira confidencial para o STJD. Depois disso eu fui perseguido, na imprensa, pela Leila (...) Sou acusado de fazer acusações sem provas. Mas eu não fiz acusações. Eu mostrei um relatório confiável, de um expert estabelecido, que diz definitivamente, com 99% de certeza, que o jogo foi manipulado. E menos de 48 horas depois eles [do STJD] dizem: ‘Não vale a pena. Não vamos investigar’. Mas eles nem leram o relatório. Eles nem me entrevistaram, nem entrevistaram a empresa [que fez o relatório], não checaram a credibilidade do expert”, contou.

Na entrevista, ainda detonou o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, e que a confederação na qual Ednaldo preside, não deveria cuidar do Brasileirão. "Eu estou sendo processando por Ednaldo, não tenho ideia do motivo. Eu adoraria conversar com ele sobre soluções. Então não tenho nada contra ele, não o conheço, desabafei naquela noite, fui punido por isso, deveria ser o fim. Nunca disse que ele estava envolvido. Eu pedi sua renúncia como líder de uma organização que acho que deveria estar fazendo um trabalho melhor. Bom, também não acho que eles deveriam estar fazendo esse trabalho. Deveríamos ter uma liga. Como a Premier League. Acho que a federação deveria comandar a seleção nacional, vencer a Copa do Mundo. Mas não tenho nenhum problema com ele”, afirmou.

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“Eu penso que a razão de a liga não ter acontecido é porque existem brigas sobre dinheiro. Penso que o dinheiro apareceu e disseram ‘eu sou o dinheiro por trás da Libra e por trás da LFU’. Daí surgiram divisões baseada no dinheiro e perdemos a visão do fato de que os clubes podem fazer um produto melhor para todos, e pode ser exportado com mais sucesso para fora. Isso faria a torta crescer e ajudaria todo mundo a melhorar. Enquanto estamos lutando pelas migalhas domésticas em cima da mesa, estamos deixando os direitos internacionais se tornarem nada”, completou ao falar sobre porque o futebol brasileiro não tem uma liga.

Textor ainda criticou a regra do Fair Play Financeiro que existe na Europa, e que muitos sonham que seja colocado no Brasil. “O fair play financeiro no mundo, eu chamei de fraude em um discurso que dei em Londres, é construído para manter os grandes times grandes, e os pequenos, pequenos. Pense nas regras. Você só pode investir 70% das suas receitas nos seus jogadores. Se você já é o Liverpool, ou o Flamengo, tem mais receitas que todo mundo. Se você colocar uma regra dessa aqui no Brasil, você sempre vai ter o Coritiba na parte de baixo da tabela. Essas regras são feitas para manter o status quo. Porque não tenho como alcançar do dia para a noite os 40 milhões de torcedores que o Flamengo tem. Isso é uma fraude, mantém os times pequenos embaixo”, declarou.

Sobre o ano passado, o dirigente se arrepende de ter demitido Bruno Lage durante o segundo turno do Brasileirão. “Eu deveria ter ficado com o Bruno Lage. Ele teve um colapso por causa do futebol brasileiro, pela intensidade nas entrevistas coletivas. Ele é um grande professor. Os jogadores não se acostumaram com ele. Eles só queriam jogar futebol, e ele trouxe muitos ensinamentos e conceitos para o dia a dia. Eu acho que poderia ter ajudado com isso. Ele ganharia os seis pontos de que precisávamos (para o título), acharia uma solução”, disse.

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