Artigo opinativo de Felipe Bertazzo Tobar - bacharel
em Ciências Jurídicas, mestre em Patrimônio Cultural e Sociedade, pela
Univille, e doutorando na Clemson University, no estado da Carolina do Sul, nos
Estados Unidos
Infelizmente, eu que, junto com vários amigos estudiosos, escrevi e
publiquei livros e artigos científicos ou de divulgação defendendo que as
próprias torcidas organizadas dialogassem entre si em vista da paz, hoje,
desiludido com grande parte dessas entidades torcedoras, peço sérias
providências em relação a elas.
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Não é incomum observar que, em especial adolescentes e jovens,
dizendo-se, com certo orgulho, membros de torcida organizada, saem por aí
praticando brutalidades ou mesmo cometendo crimes ou contravenções penais e
ninguém responsável pela entidade à qual dizem pertencer nada diga ou, pior,
finja que a coisa não é com ele.
Com essa atitude – passiva ante a violência ou dela estimuladora –
presidente e diretoria de uma torcida se colocam num sério dilema: se não
permitem a violência e prezam pela paz, por que nunca aceitam, de modo público
e sério, um acordo com os rivais, não expulsam os brigões (“os pistas”, na
propositadamente imprecisa linguagem dos torcedores organizados), não desfazem
os grupos de brigas e outros vandalismos (“bondes”, na fala dúbia desses
torcedores) ou não emitem comunicados claros de que X ou Y, a viverem cometendo
males na sociedade, não fazem parte do quadro de associados da entidade
torcedora? Em contrapartida, se presidente e diretoria são a favor do
vandalismo e da violência, por que não saem do esconderijo covarde em que se
encontram e declaram suas reais intenções ao povo em geral? Sim, se prezam a
paz, que a assumam; se são de guerra, que a admitam também.
O modo dúbio de ser de algumas entidades que agregam torcedores não tem
mais lugar no século XXI.
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No caso concreto de Campinas, uma rápida pesquisa na internet demonstra
os rumos que as duas maiores torcidas organizadas locais parecem ter seguido: o
da guerra vergonhosa e não o da rivalidade sadia. Cito apenas alguns poucos exemplos
aleatórios. No Cidadeon, site de notícias da região, lê-se, em matéria de
15/09/2021, que a Polícia Militar evitou um confronto entre “torcedores” da
Ponte Preta e do Guarani. Alguns deles, segundo a PM, portavam pedaços de
madeira e se deslocavam em bandos.
Aqui, a pergunta óbvia: bandos com pedaços de madeiras são torcedores ou
vândalos? Afinal, para apoiar o seu time do coração, você necessita de pedaço
de pau? É evidente que não, mas para brigar (nem se enfrentam mais “na mão
limpa”), tumultuar e até matar sim.
Pior é que isso pode ser apenas a parte visível da logística de guerra
dessa gente, pois algumas vezes, fruto de prévia investigação ou da
coincidência, a polícia encontra com esses brigões outros artefatos de guerra,
como já ocorreu, mais de uma vez, em Campinas. Segundo o portal G1, de
10/08/2017, a PM deteve, próximo do Moisés Lucarelli, membros da Torcida Jovem
da Ponte com bombas caseiras que jogariam na torcida do Fluminense. Em
20/09/2014, ainda de acordo com o G1, foi a vez de bugrinos serem pegos, na
sede de uma de suas torcidas organizadas, com nove barras de ferro, doze
pedaços de pau, dois estilingues (coisa de criança!) e duas bombas caseiras.
Embora não diga respeito às torcidas dos dois times locais, o site Futebol do
interior, de 10/01/2021, diz que, antes do jogo entre São Paulo e Santos,
santistas e são-paulinos se enfrentaram no Jardim Garcia. Houve disparos de
arma de fogo e baleados.
Diante do exposto – e haveria muito mais a relatar – só me resta deixar
um importante pedido: dentro da lei, não deem tréguas a esses vândalos! Como
fazer isso? Em duas frentes concomitantes. Primeiro, por meio do constante
empenho do Ministério Público, das Polícias Militar e Civil e da Guarda
Municipal, instituição, aliás, cada vez mais preparada e atuante no Brasil
todo, no cerco incessante a esses brigões. Segundo, pela denúncia desses
vândalos por parte da população ordeira e pacífica da cidade através dos
telefones 181 (Disque Denúncia), 190 (Polícia Militar) e 153 (Guarda
Municipal). Se possível, com filmagens a identificar bem rostos, placas de
carro, armas que portam etc.
Parte das torcidas organizadas tornou-se, sem dúvida, caso de polícia e
assim deve ser tratada.
Foto: Thiago Batista – Esporte Paulista