Fleury era o governador em briga na Copinha e ajudou com CT para o Corinthians

15/11/2022 - 14:03

Faleceu nesta terça-feira, aos 73 anos, o ex-governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho. Ele foi governador do estado de São Paulo entre 1990 e 1994, período no qual viveu com muitas polêmicas. No futebol sua história é ligada a uma das grandes confusões na história da Copa São Paulo de futebol júnior e também atuava como conselheiro do Corinthians, onde ajudou diretamente com centro de treinamento ao clube.

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Fleury, que se destacou na área de segurança pública e do direito, antes de ser governador, precisou conviver com uma das grandes tragédias na história da Copa São Paulo de futebol júnior, com as primeiras grandes brigas entre torcidas, e uma das primeiras mortes por conta disso nos estádios de futebol.

Na semifinal da Copinha de 1992, São Paulo e Corinthians, se enfrentaram no Nicolau Alayon. O São Paulo venceu o jogo por 1 a 0, gol de Andrei, aos 9 minutos do primeiro tempo da prorrogação. E uma confusão ocorreu no estádio do Nacional, que chegou ao ponto de ferir um dos torcedores do Corinthians. 

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Rodrigo Gasperi, torcedor do Timão, chegou a ser operado, mas faleceu quatro dias depois, aos 13 anos, ao ser constado que ele havia sido atingido por uma bomba de fabricação caseira.

Na epóca a Polícia Militar, que foi colocada como principal culpada da confusão, jogou a culpa em toda história na torcida do São Paulo.

Rodrigo, inclusive, foi a primeira vítima fatal de que se tem notícia em consequência de conflitos dentro de um estádio no Brasil. 

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Por conta dessa confusão, em 1993, a Federação Paulista de Futebol, através do presidente Eduardo José Farah, proibiu qualquer tipo de mastro, bandeiras maiores de 1m, instrumentos musicais e fogos de artificio nos estádios de São Paulo por determinado período naquele ano – proibição que ocorreu de vez em 1996 por lei estadual, revogada agora em outubro.

Dois meses antes, em novembro, também na era Fleury como governador, já se mostrava as falhas, que são vistas até hoje da Polícia Militar no sistema de revista de torcedores, para não adentrarem com objetos proibidos. Segundo matéria da Folha de São Paulo, em 25 de janeiro, de 1992, o torcedor Eduardo Tadeu Lara, foi assistir São Paulo e Palmeiras no Brasileirão, e terminou perdendo dois dedos de um dos pés, ao pisar em uma bomba. 

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Além das polêmicas que conviveu como governador, Fleury era bastante influente no Corinthians. Ele era conselheiro vitalício do clube, e participava da vida ativa do clube.

E como governador ajudou diretamente ao clube na construção de um centro de treinamento ao Alvinegro. Um decreto assinado pelo governador em 10 de janeiro de 1994, já durante o seu último ano de mandato, permitiu o uso do Corinthians por 50 anos na época de um terreno onde está hoje o centro de treinamento do time profissional, localizado no Parque Ecológico do Tietê.

Para uso do local, o Corinthians em contrapartida teria que construir um centro comunitário com salas de aula e atendimento médico e dentário para crianças carentes, segundo matéria da Folha de São Paulo, em 5 de janeiro de 2001.

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O documento está disponível nos dias atuais no site da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e pode ser acessado aqui - https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1994/decreto-38319-10.01.1994.html

O decreto assinado por Fleury especifica todos os detalhes da localização do CT do Alvinegro na epóca, e que ele ficaria localizado ao lado da “divisa com o campo da Portuguesa”, como está escrito no documento - o que na verdade hoje, funciona o centro de treinamento da Portuguesa.

O centro de treinamento do futebol profissional do Corinthians no Parque Ecológico do Tietê, apesar de ter sido concebido ao clube em 1994, somente foi oficialmente inaugurado em setembro de 2010, e recebe o nome de CT Joaquim Grava.

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Fora do esporte, Fleury conviveu com grandes polêmicas na sua gestão como governador. Foi sob a sua gestão, que em 1992, ocorreu o chamado massacre do Carandiru, dentro do presídio, que existia na epóca do bairro do Carandiru (desativado em 2002, e atualmente é um parque no seu lugar).

O então governador, em testemunho no júri, legitimou a ordem, pois “existiam pessoas que estavam matando umas as outras. A polícia não pode se omitir”. No entanto, apenas 9 foram assassinados com arma branca (facas ou estiletes), por outros presos, e a PM matou 102, o que evidenciou o massacre, afastando a tese de legítima defesa. 

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Reportagem da revista Veja acusou o então governador de tentar acobertar o massacre às vésperas da eleição municipal – especialmente para Prefeitura de São Paulo, onde o então governador apoiava o seu vice, Aloysio Nunes, que acabou sendo derrotado por Paulo Maluf no pelito (Aloysio foi terceiro colocado, ficando atrás até de Eduardo Suplicy).

Também foi na gestão de Fleury como governador que o Banco Banespa, na epóca pertence ao governo do estado de São Paulo, passou pela sua maior crise, que ajudou diretamente na sua venda e por consequência extinção.

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No último ano do governo Fleury, depois de seguidos meses de balanço negativo e dificuldade para fechamento do caixa diário, o Banespa sofreu intervenção do Banco Central e passou a ser gerido pelo Sistema de Regime de Administração Especial Temporário que vigorou até novembro de 1996, quando 51% das ações do Estado de São Paulo foram transferidas para o Governo Federal. Depois o banco foi privatizado – comprado pelo grupo Santander e acabou sendo extinta a marca Banespa.

Fleury, quando deixou o governo do estado de São Paulo, em 2 de janeiro de 1995, declarou ainda que possuía títulos com associações esportivas. Ele tinha na época cinco títulos do Esporte Clube Pinheiros, um título do Jockey Club de São Paulo e três cadeiras cativas no Corinthians.

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O Corinthians soltou nota em seu site lamentando o falecimento de Fleury. “O Sport Club Corinthians Paulista comunica com pesar o falecimento do conselheiro vitalício Luiz Antônio Fleury Filho, aos 73 anos”, escreveu a agremiação.

“Foi durante seu governo, em janeiro de 1994, que o clube recebeu a cessão do terreno ás margens da Rodovia Ayrton Senna em que hoje funciona o Centro de Treinamento Dr. Joaquim Grava, pelo qual o clube é enormemente grato”, lembrou o clube com gratidão, durante a nota.

O velório de Fleury será realizado nesta terça-feira na sala Roma do Funeral Home até às 17h. Familiares e amigos deslocam-se para o último adeus no Cemitério do Morumbi, logo na sequência.

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