Faleceu
nesta terça-feira, aos 73 anos, o ex-governador de São Paulo, Luiz Antônio
Fleury Filho. Ele foi governador do estado de São Paulo entre 1990 e 1994, período
no qual viveu com muitas polêmicas. No futebol sua história é ligada a uma das
grandes confusões na história da Copa São Paulo de futebol júnior e também
atuava como conselheiro do Corinthians, onde ajudou diretamente com centro de
treinamento ao clube.
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Fleury,
que se destacou na área de segurança pública e do direito, antes de ser
governador, precisou conviver com uma das grandes tragédias na história da Copa
São Paulo de futebol júnior, com as primeiras grandes brigas entre torcidas, e
uma das primeiras mortes por conta disso nos estádios de futebol.
Na
semifinal da Copinha de 1992, São Paulo e Corinthians, se enfrentaram no Nicolau
Alayon. O São Paulo venceu o jogo por 1 a 0, gol de Andrei, aos 9 minutos do
primeiro tempo da prorrogação. E uma confusão ocorreu no estádio do Nacional,
que chegou ao ponto de ferir um dos torcedores do Corinthians.
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Rodrigo
Gasperi, torcedor do Timão, chegou a ser operado, mas faleceu quatro dias
depois, aos 13 anos, ao ser constado que ele havia sido atingido por uma bomba
de fabricação caseira.
Na
epóca a Polícia Militar, que foi colocada como principal culpada da confusão,
jogou a culpa em toda história na torcida do São Paulo.
Rodrigo,
inclusive, foi a primeira vítima fatal de que se tem notícia em consequência de
conflitos dentro de um estádio no Brasil.
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Por
conta dessa confusão, em 1993, a Federação Paulista de Futebol, através do
presidente Eduardo José Farah, proibiu qualquer tipo de mastro, bandeiras
maiores de 1m, instrumentos musicais e fogos de artificio nos estádios de São
Paulo por determinado período naquele ano – proibição que ocorreu de vez em
1996 por lei estadual, revogada agora em outubro.
Dois
meses antes, em novembro, também na era Fleury como governador, já se mostrava as
falhas, que são vistas até hoje da Polícia Militar no sistema de revista de
torcedores, para não adentrarem com objetos proibidos. Segundo matéria da Folha
de São Paulo, em 25 de janeiro, de 1992, o torcedor Eduardo Tadeu Lara, foi
assistir São Paulo e Palmeiras no Brasileirão, e terminou perdendo dois dedos de
um dos pés, ao pisar em uma bomba.
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Além
das polêmicas que conviveu como governador, Fleury era bastante influente no
Corinthians. Ele era conselheiro vitalício do clube, e participava da vida ativa
do clube.
E como
governador ajudou diretamente ao clube na construção de um centro de treinamento
ao Alvinegro. Um decreto assinado pelo governador em 10 de janeiro de 1994, já
durante o seu último ano de mandato, permitiu o uso do Corinthians por 50 anos
na época de um terreno onde está hoje o centro de treinamento do time profissional,
localizado no Parque Ecológico do Tietê.
Para
uso do local, o Corinthians em contrapartida teria que construir um centro
comunitário com salas de aula e atendimento médico e dentário para crianças
carentes, segundo matéria da Folha de São Paulo, em 5 de janeiro de 2001.
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O documento
está disponível nos dias atuais no site da Assembleia Legislativa do Estado de
São Paulo e pode ser acessado aqui - https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1994/decreto-38319-10.01.1994.html
O decreto
assinado por Fleury especifica todos os detalhes da localização do CT do Alvinegro
na epóca, e que ele ficaria localizado ao lado da “divisa com o campo da
Portuguesa”, como está escrito no documento - o que na verdade hoje, funciona o
centro de treinamento da Portuguesa.
O
centro de treinamento do futebol profissional do Corinthians no Parque
Ecológico do Tietê, apesar de ter sido concebido ao clube em 1994, somente foi
oficialmente inaugurado em setembro de 2010, e recebe o nome de CT Joaquim Grava.
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Fora
do esporte, Fleury conviveu com grandes polêmicas na sua gestão como governador.
Foi sob a sua gestão, que em 1992, ocorreu o chamado massacre do Carandiru,
dentro do presídio, que existia na epóca do bairro do Carandiru (desativado em
2002, e atualmente é um parque no seu lugar).
O
então governador, em testemunho no júri, legitimou a ordem, pois “existiam
pessoas que estavam matando umas as outras. A polícia não pode se omitir”. No
entanto, apenas 9 foram assassinados com arma branca (facas ou estiletes), por
outros presos, e a PM matou 102, o que evidenciou o massacre, afastando a tese
de legítima defesa.
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Reportagem
da revista Veja acusou o então governador de tentar acobertar o massacre às
vésperas da eleição municipal – especialmente para Prefeitura de São Paulo,
onde o então governador apoiava o seu vice, Aloysio Nunes, que acabou sendo
derrotado por Paulo Maluf no pelito (Aloysio foi terceiro colocado, ficando atrás
até de Eduardo Suplicy).
Também
foi na gestão de Fleury como governador que o Banco Banespa, na epóca pertence
ao governo do estado de São Paulo, passou pela sua maior crise, que ajudou diretamente
na sua venda e por consequência extinção.
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No último ano do governo Fleury, depois de seguidos meses de balanço negativo e dificuldade para fechamento do caixa diário, o Banespa sofreu intervenção do Banco Central e passou a ser gerido pelo Sistema de Regime de Administração Especial Temporário que vigorou até novembro de 1996, quando 51% das ações do Estado de São Paulo foram transferidas para o Governo Federal. Depois o banco foi privatizado – comprado pelo grupo Santander e acabou sendo extinta a marca Banespa.
Fleury,
quando deixou o governo do estado de São Paulo, em 2 de janeiro de 1995,
declarou ainda que possuía títulos com associações esportivas. Ele tinha na
época cinco títulos do Esporte Clube Pinheiros, um título do Jockey Club de São
Paulo e três cadeiras cativas no Corinthians.
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O
Corinthians soltou nota em seu site lamentando o falecimento de Fleury. “O
Sport Club Corinthians Paulista comunica com pesar o falecimento do conselheiro
vitalício Luiz Antônio Fleury Filho, aos 73 anos”, escreveu a agremiação.
“Foi
durante seu governo, em janeiro de 1994, que o clube recebeu a cessão do
terreno ás margens da Rodovia Ayrton Senna em que hoje funciona o Centro de
Treinamento Dr. Joaquim Grava, pelo qual o clube é enormemente grato”, lembrou
o clube com gratidão, durante a nota.
O
velório de Fleury será realizado nesta terça-feira na sala Roma do Funeral Home
até às 17h. Familiares e amigos deslocam-se para o último adeus no Cemitério do
Morumbi, logo na sequência.