Estamos a poucos dias do início do calendário esportivo de
17 com a tradicional competição do início de janeiro: a Copa São Paulo de
Futebol Júnior. Antes, a nobre “Copinha”, como carinhosamente é chamada,
agregava os grandes clubes da cidade para celebrar o aniversário da Capital
Paulista. Posteriormente, somou-se a eles clubes do Interior do Estado e outros
grandes do país, como cariocas, mineiros e gaúchos.
Dizia-se que a Copa SP sempre revelava talentos, como Zico e
Falcão. Mas se ela não existisse, tais craques não apareceriam? A mesma Copinha
já “revelou” João Fumaça, Sérgio Mota, Chumbinho…
O problema é: a Copinha não revela mais ninguém! Kaká e
Neymar foram reservas na Copinha, quando chamados a participar da competição.
Aí valem os questionamentos:
– Os treinadores dessas equipes são realmente talhados para
tal?
– Jogador-talento no juvenil vira craque no profissional?
– Quem disse que garoto coadjuvante não vira profissional
protagonista?
Participei por 9 anos apitando jogos da Copa SP. Antes, ela
servia para revelar árbitros e dar oportunidade aos iniciantes. Meu primeiro
jogo no torneio foi em 1998 – Santos do Amapá x Desportiva do Espírito Santo no
estádio que precedeu a Arena Barueri.
Hoje, a Copa São Paulo serve para colocar em atividade
árbitros que foram “esquecidos” durante o ano e para treinar o pessoal da série
A1. Revelar talentos também parece ter sido deixado de lado pela Comissão de
Arbitragem. vamos ver o que fará a Nova Comissão, que tem a frente Ednilson
Corona e José Henrique de Carvalho (torço e confio que será melhor do que na
outra gestão). No meu tempo, quem apitava a final da Copinha era árbitro da A2
ou A3 e que seria nome certo para ter oportunidade na A1. Boa época da
arbitragem paulista…
Enfim: Farah começou o processo de inchaço da competição,
diminuindo o nível técnico com fases irrelevantes e times montados para vender
atletas. Só que ele era inovador: trouxe o Milan-ITA, o Kashima-JAP… Já Marco
Polo Del Nero escancarou de vez: aumentou ainda mais o número de clubes de
empresários e inexpressivas equipes. Reinaldo Carneiro não está fugindo disso:
veja quantas e de onde são as equipes do torneio (Gênus-RO, Pinheiro-MA,
Alecrim-RN, Alagoinhas-BA, Paranoá-DF, Aimoré-RS, Corissabá-PI, Sete de
Setembro-AL, entre outras)! Não era melhor ter uma seletiva antes da entrada
dos grandes na competição? Nada impede um grande qualify envolvendo clubes da
Roraima, Acre, Rondônia…
Para mim, a Copinha infelizmente se tornou um catado que não
revela mais ninguém. E para você? Seria tão legal que ela fosse composta de
poucos, bons e tradicionais clubes… O nível técnico aumentaria e se tornaria
mais atrativa.
Aliás, 3 últimas observações quanto ao naipe dos clubes:
– Já apitei clube que era bancando por magnata estrangeiro.
Um garoto coreano, aficionado por futebol brasileiro, convenceu o pai (um rico
industrial), “alugou a vaga” em um time do interior, bancou as despesas na Copa
SP só para ter o prazer de jogar. E jogou!
– Muitos clubes “vendiam” intercâmbio para japoneses. Os
jovens pagavam caro por uma vaga (e esse valor era significativo para os
times), vinham para a competição, jogavam 10 ou 15 minutos em jogos que nada
valiam na ultima rodada e o golpe, ou melhor, o acerto estava cumprido. Mas
aprendizado mesmo… Fica só na experiência para o nipônico.
– Algumas equipes tem psicólogo, coach, professor de
mandarim e… não tem professor de regras de futebol. Pode? Saber das regras do
ofício que estão investindo na carreira se faz extremamente necessário!
Por Rafael Porcari –
Ex-árbitro de futebol profissional e comentarista de arbitragem da Rádio
Difusora