Encerrei exatamente há 8 anos minha carreira de árbitro de
futebol. Foram mais de 700 partidas trabalhadas, em diversas divisões e
funções.
Eu gostaria de estar em atividade?
Claro, creio que não só eu, mas muitos aposentados do apito,
que ainda apitam suas partidas em seu íntimo nos seus sonhos. Vestem o uniforme
e se transformam dentro dos gramados que imaginam.
Mas, definitivamente, acabou. Termina para sempre quando
perde a motivação, e o desejo de voltar sucumbe à realidade. A saudade de estar
em campo é enorme. A disposição em obedecer aos dirigentes burocráticos (e
muitos, soberbos e irônicos) é nula.
Quanto tempo não há renovação dos cartolas? Maior do que o
da renovação dos árbitros…
A distância entre o prazer da arbitragem é abissal em
relação às humilhações que se têm que fazer e viver nas comissões de árbitros.
Reuniões enfadonhas, falta de meritocracia, sacerdócio que se doa em vão.
Contraste absurdo da paixão de apitar uma partida de futebol em meio a um
segmento cada vez mais restrito a “donos de cargos”, onde a vida sindical se
mistura ao ofício de dirigentes patronais. Questionar a quem e contra quem?
Enfim, vida que segue e família que se curte (coisa que não
se consegue enquanto árbitro, que não é mais o conhecedor das regras do
futebol, mas o atleta que deve somente correr, correr e correr dentro de campo,
acatando orientações de “bola na mão que viram mão na bola”).
Hoje, mato a saudade do meio em que vivi falando de futebol
e arbitragem na TV, no rádio, no jornal e na internet. E assim sou feliz!
Uma singela constatação: se a carreira de árbitro fosse mais
justa, mais competentes os nomes seriam, menos árbitros de potencial teriam que
encerrar suas trajetórias e trocaríamos a exigência física pela técnica. Aliás,
como exigir algo, se os dirigentes não querem o profissionalismo verdadeiro,
transformando a causa em discursos demagogos?
Férias, INSS, 13o e plano de saúde ao árbitro… Tudo ilusão e
são causas que não estão na pauta dos Sindicatos! Afinal, quem quer brigar com
a CBF e suas Federações aliadas?
O INAMPS (ou a Unimed, a Amil e tantos outros planos de
saúde) estão aí para os árbitros lesionados...
Foto: Jogos Perdidos - Orlando Lacanna