Bruno Winckle
IG São Paulo
A Federação Paulista de Futebol (FPF) é alvo de críticas de
torcedores, jogadores e técnicos por conta do formato de disputado campeonato
estadual que ela, com a anuência dos clubes, implantou nas últimas sete edições
do torneio. Com 20 clubes, 19 rodadas e a classificação de oito times para a
fase eliminatória, o resultado é um só: o desinteresse de público e dos
próprios jogadores.
Em contato com reportagem do IG , a Federação Paulista, por
meio de sua assessoria de imprensa, informou que o Coronel Isidro Suita
Martinez, vice-presidente do Departamento de Competições da entidade
"estuda uma mudança na fórmula do campeonato que deve ser discutida no
segundo semestre de 2013". Não há ainda nenhuma sinalização do tipo de
alterações que serão feitas, mas a série de críticas que a entidade recebeu nos
últimos anos motivou a FPF a ao menos tentar atender algumas demandas de
clubes.
Um efeito colateral do formato defasado do torneio está na
sequência de três empates em 0 a 0 em clássicos que nada valeram como Corinthians
e Santos, São Paulo e Palmeiras e Palmeiras e Santos. Os quatro grandes clubes
do Estado têm condições confortáveis para se classificar à próxima fase e
transformam os duelos entre eles na primeira fase em meras formalidades, longe
da grandeza de suas histórias de rivalidade.
Neste domingo, com foco exclusivo nos compromissos da
próxima semana na Libertadores, São Paulo e Corinthians se enfrentam no
Morumbi. Com classificação praticamente garantida à próxima fase do Estadual, a
partida vale muito pouco. Os ingressos caros (mínimo de R$ 40, com eventuais
descontos de cada clube), também afastam o torcedor. A média de público dos
clássicos é baixa e não levou mais de 20 mil pessoas em nenhum dos duelos
citados. Foram 11 mil para Palmeiras e Santos, 18 mil para São Paulo e
Palmeiras e 17 mil para Santos e Corinthians.
Na segunda-feira e na terça-feira, dirigentes esportivos e
profissionais de marketing se reuniram em São Paulo para debater mudanças que
tornem os estaduais mais atrativos para torcedores e jogadores. “Na minha
visão, os estaduais não devem acabar. No entanto, as fórmulas de disputa
precisam ser alteradas. Os clubes grandes começam a pré-temporada no início de
janeiro e apenas duas semanas depois já estão jogando os campeonatos estaduais”,
disse José Carlos Brunoro, diretor-executivo do Palmeiras.
Há duas semanas, o técnico Tite também levantou a voz para
criticar a FPF. A forma como a entidade organizou a tabela do Estadual forçou o
Corinthians a jogar num sábado, dia 9 de março, depois de compromisso na
quarta-feira em Tijuana, dia 6 de março, no México, pela Libertadores. Após voo
de mais de 14 horas, o time de Tite chegou a São Paulo na véspera de partida
contra o Ituano.
"Peço um pouco de bom senso. Saber aonde o time vai
jogar e quantas horas vai viajar. É uma crítica minha. Enquanto técnico, estou
falando de bom senso. Gostaria de parabenizar o presidente da Federação
Mineira", declarou Tite, que lembrou da tabela do Campeonato Mineiro, que
começa apenas em fevereiro e com 12 times reserva menos datas e garante melhor
preparação a todos clubes.
Marco Polo Del Nero, presidente da FPF, ignorou os apelos do
treinador. "Não vou responder a treinador fazendo um comentário desse.
Quando o presidente falar, eu respondo. Vejo muitas críticas sobre muita coisa,
mas não vou responder crítica de técnico. Isso foi uma besteira, nem tomei
conhecimento e não respondo", disse Del Nero ao jornal "Folha de S.
Paulo".
Del Nero costuma dizer que os clubes aceitaram o regulamento
e se exime de culpa pelas críticas que recebe. Os contratos de TV são
vantajosos para os quatro grandes do Estado, mas esportivamente, o torneio não
representa nada. Paulo André, zagueiro do Corinthians, avalia que o formato do
Paulista seja repensado. "Não gosto do Estadual e ele não tem futuro. Tem
de mudar o formato para que ele sobreviva", disse o zagueiro na última
terça-feira.
O diretor de futebol do Corinthians, Roberto de Andrade,
também é contrário à fórmula de disputa do Estadual. "Acho que deveria ser
uma fórmula diferente da que é, tinha de ser mais curto. Com menos jogos, o
campeonato ficaria mais interessante e sobrariam datas para você fazer
amistosos internacionais, para levar a marca do Corinthians a uma pré-temporada
mais extensa", disse Andrade.